
The Last Of Us - Parte 1
Há jogos que entretêm. Outros que desafiam. Mas poucos tocam. The Last of Us Part I, lançado originalmente em 2013 e depois refeito com esmero em 2022, é mais do que uma obra de entretenimento digital. É uma narrativa sobre sobrevivência e amor, degradação e esperança. É uma análise visceral da condição humana quando exposta ao colapso da civilização. E talvez por isso, é um dos jogos mais relevantes e discutidos da história recente.

A HISTÓRIA: O PESO DE UM MUNDO MORTO

Em um mundo devastado por uma pandemia fúngica (baseada no real Cordyceps), The Last of Us nos apresenta Joel, um contrabandista traumatizado, e Ellie, uma adolescente que pode ser a chave para a cura da humanidade. A relação entre os dois é o cerne da narrativa. A jornada, inicialmente uma missão prática de entrega, se transforma num laço que desafia o egoísmo, a perda e a esperança.
O roteiro de Neil Druckmann não tem pressa em contar sua história. Ele constrói, com cuidado quase literário, um universo onde não há heróis nem vilões. Há sobreviventes. E cada um deles carrega cicatrizes físicas e emocionais.
A ESTÉTICA DA DECADÊNCIA
Visualmente, o remake para o PlayStation 5 é um primor. Ambientes saturados de silêncio e natureza retomando espaços humanos compõem um mundo de beleza cruel. A tecnologia de ponta serve para intensificar a sensação de abandono e a fragilidade da vida.
A direção de arte encontra beleza na ferrugem, na rachadura das calçadas, nos raios de luz atravessando vitrines quebradas. The Last of Us desafia a nossa noção de estética ao apresentar o apocalipse com uma paleta melancólica e bela.

GAMEPLAY: LENTIDÃO COMO RECURSO DRAMÁTICO

Aqui não se trata de matar zumbis como num shooter genérico. Cada confronto é tenso, cada bala é preciosa. A jogabilidade estimula a reflexão e a estratégia. A brutalidade do combate não é glorificada, mas incômoda. Mata-se por sobrevivência, e não por prazer.
A inteligência artificial dos inimigos e companheiros contribui para a imersão. Mas o verdadeiro destaque é a maneira como o jogo integra narrativa e mecânica. Ellie não é um fardo, é uma aliada. As pequenas interações entre ela e Joel durante a exploração do mundo constroem laços que fazem com que o jogador se importe.
TEMAS: A HUMANIDADE POSTA À PROVA

The Last of Us é uma meditação sobre o que resta da humanidade quando tudo se perde. Amor, vingança, sacrifício, culpa. Nada é simples ou didático. O jogo nos obriga a questionar a moralidade de nossas escolhas.
O final — ainda que controverso — é uma das mais poderosas declarações sobre egoísmo e amor paternal da história dos videogames. Joel escolhe Ellie em detrimento da humanidade. E nos deixa sem resposta fácil sobre se ele estava certo ou errado.
O IMPACTO CULTURAL
The Last of Us influenciou profundamente a indústria dos games, demonstrando que jogos podem ser tão narrativamente sofisticados quanto livros ou filmes. A adaptação para a TV da HBO, estrelada por Pedro Pascal e Bella Ramsey, levou a história a um novo público, expandindo seus dilemas para além do universo gamer.
Além disso, o jogo gerou uma série de debates sobre representação, inclusão e o futuro dos jogos como arte. Mostrou que o médio interativo pode ser um veículo de empatia e provocação.
CONCLUSÃO: UM MARCO EMOCIONAL E ARTÍSTICO
The Last of Us Part I não é apenas um jogo sobre sobrevivência apocalíptica. É uma experiência sobre conexões humanas, sobre a dor de perder e a beleza de encontrar significado mesmo no fim do mundo. Ele não nos oferece heroísmo, mas humanidade. E isso é muito mais raro.
Num mercado saturado de explosões e gratificações instantâneas, The Last of Us permanece como um sussurro incômodo que ecoa muito depois de os créditos finais subirem.
E talvez seja esse o seu maior trunfo: lembrar que, mesmo em ruínas, ainda somos capazes de sentir.
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Escrita e Edição: Joyce