
Opinião - O que está acontecendo com o cinema hoje?
O que está acontecendo com o cinema hoje?" Essa é uma pergunta de milhões, não é mesmo?

Assistir filmes, para mim, começou como um programa de pai e filho. Meu pai, sempre tão ocupado com o trabalho, estava frequentemente fora de casa, mas veja bem, isso não é uma crítica a ele de forma alguma. Como o homem da casa, ele fez o que tinha que fazer, e sou eternamente grato por isso. Digo isso porque, quando ele estava em casa, esse era um momento especial que passávamos juntos: ele alugava algumas fitas e nós tirávamos umas horas para assistir a filmes. Esse momento marcou profundamente a minha infância. Meu pai sempre gostou de ficção e drama, e isso acabou moldando, de certa forma, o meu gosto pelo cinema também.
Por isso, acompanho o cinema e suas novidades com afinco, e acabei me tornando muito crítico ao que assisto, principalmente depois que me tornei adulto. Passamos a valorizar mais o nosso tempo livre conforme envelhecemos. Afinal, nosso tempo é o bem mais precioso que temos, não é mesmo?

Hoje, confesso que o cinema já não me desperta a mesma atenção que despertava em outros tempos. É como se ele tivesse perdido aquela magia que outrora possuía. Na minha opinião, isso se deve a uma combinação de fatores internos e externos à velha fábrica de filmes. Contudo, acredito que o principal problema esteja na "máquina criativa".
Já não formamos roteiristas como antigamente. Talvez porque, hoje, as pessoas não leem como antes. A referência literária é essencial para a construção de textos e narrativas envolventes. Um bom exemplo disso é o abandono, por parte de muitos roteiristas e escritores, da clássica estrutura da jornada do herói, também conhecida como monomito.
Essa estrutura foi amplamente estudada pelo pesquisador e escritor Joseph Campbell, que identificou sua presença em diversos contos e histórias transmitidos pela humanidade ao longo dos tempos. Se quiser saber mais sobre esse tema, discutimos isso com mais profundidade aqui: A Jornada do Herói
Outro fator que, na minha opinião, está contribuindo para a perda de qualidade nas produções cinematográficas atuais é a crescente politização de diversos setores do entretenimento. Esses setores parecem ter sido rapidamente capturados por militâncias políticas, o que tem levado, ao meu ver, à hegemonia de pensamento – uma das principais causas da queda na qualidade e criatividade no cinema.
A diversidade de ideias é fundamental para promover discussões saudáveis e, consequentemente, para estimular a criatividade de maneira genuína. No entanto, muitas vezes, essas militâncias sacrificam a história em prol de uma mensagem política. A narrativa política acaba se tornando mais importante do que a trama em si.
Vale destacar que, de forma alguma, defendo que discussões sociais devam ser deixadas de lado na arte. O que quero dizer é que há maneiras mais didáticas e sutis de abordar esses assuntos nos filmes. Afinal, ninguém quer pagar um ingresso de cinema para passar duas horas sendo criticado por não compartilhar os ideais políticos de quem criou o filme. Abordagens mais equilibradas e inteligentes podem tornar essas temáticas muito mais palatáveis e impactantes. Se você se interessa por esse tema, exploramos essa questão com mais detalhes aqui: A Politização do Cinema
E, por último, mas não menos importante, está o impacto do streaming. Embora o streaming tenha desempenhado um papel significativo na democratização do acesso ao cinema — se é que podemos colocá-lo dessa forma —, ele também tem contribuído para a exacerbação e escassez de ideias no universo cinematográfico.
A necessidade de alimentar essa indústria com uma frequência muito maior do que em épocas anteriores, como na era das fitas cassete, trouxe novos desafios. Hoje, os prazos são cada vez mais curtos e a demanda por conteúdo cresce exponencialmente. Isso acabou transformando o cinema, outrora uma arte, em uma espécie de linha de produção.
Nesse cenário, torna-se indispensável criar critérios e regras de produção para agilizar processos e atender à necessidade de lançar cada vez mais conteúdo em um curto período de tempo. Contudo, essa abordagem padronizada impõe um molde rígido sobre como filmes e séries devem ser produzidos para o streaming, sufocando a criatividade e limitando o potencial de inovação das narrativas.
Concluindo, acredito que o cinema esteja atravessando um período de transformação, marcado por desafios criativos e estruturais. A politização excessiva, a hegemonia de pensamento e a padronização imposta pelo modelo de produção em massa, especialmente para o streaming, têm impactado negativamente a qualidade e a essência dessa arte tão rica.
No entanto, tenho esperança de que esta seja apenas uma fase passageira — uma escassez criativa que precede um futuro mais abundante e diverso. Assim como na natureza, os ciclos de dificuldade frequentemente abrem caminho para momentos de renovação e florescimento.
O cinema sempre foi uma peça central da cultura ocidental, um espelho das nossas histórias, conflitos e aspirações. Seria uma perda irreparável vê-lo reduzido a um produto meramente comercial ou politizado. Por isso, torço para que surjam novos criadores, narrativas inovadoras e formas de contar histórias que respeitem tanto a arte quanto o público. O cinema merece recuperar sua magia, e nós, como espectadores, merecemos voltar a nos encantar com ele.

Escrito e revisado por: Dart