
Opinião - O Cinema como Espelho Ideológico: Arte ou Propaganda?
Introdução
Desde suas origens, o cinema se estabeleceu não apenas como uma forma de entretenimento, mas também como uma poderosa ferramenta de influência cultural e social. Ao longo da história, regimes e movimentos utilizaram a sétima arte como instrumento de propaganda, moldando consciências e reforçando ideologias. Hoje, em um cenário global hiperpolarizado, a politização do cinema e sua utilização como veículo de mensagens ideológicas tornaram-se temas centrais em debates sobre liberdade de expressão, qualidade artística e responsabilidade cultural. Resta saber: quando o cinema deixa de ser arte e passa a ser apenas panfleto?
Desenvolvimento
A relação entre cinema e ideologia não é nova. Nos anos 1930 e 1940, filmes como O Triunfo da Vontade, dirigido por Leni Riefenstahl, mostraram como a linguagem cinematográfica poderia servir a propósitos políticos de forma extremamente eficaz. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, com filmes de guerra que exaltavam o patriotismo durante a Segunda Guerra Mundial. Esses exemplos evidenciam que o cinema sempre esteve entrelaçado com a política — às vezes como crítica, às vezes como suporte.
No entanto, o que se observa nas últimas décadas é uma intensificação da presença de discursos ideológicos em filmes de grandes estúdios, principalmente em Hollywood. Muitos argumentam que essa tendência compromete a qualidade narrativa das obras. Ao priorizar a mensagem política em detrimento do enredo, da construção de personagens e da coesão artística, os filmes se tornam, nas palavras de alguns críticos, "sermões audiovisuais".
Além disso, há quem veja um certo esvaziamento da pluralidade de ideias. Produções que desafiam narrativas dominantes enfrentam resistência, cancelamentos e boicotes. A arte que deveria fomentar a dúvida e o questionamento, por vezes, se transforma em palanque. Isso empobrece o debate cultural e afasta o público, que começa a perceber uma uniformização das mensagens — todas comprometidas com uma moral específica e não mais com a complexidade da condição humana.
Por outro lado, é inegável que o cinema, como expressão artística e cultural, tem o direito — e talvez o dever — de refletir o seu tempo. Questões como desigualdade social, racismo, identidade de gênero e violência são urgentes e merecem espaço na arte. Ignorá-las seria igualmente problemático. A questão central, portanto, não é a presença dessas temáticas, mas como elas são abordadas: de forma crítica e artística ou de maneira panfletária e superficial?
Conclusão
A politização do cinema contemporâneo não é, por si só, um problema. Ao contrário, ela pode ser uma forma legítima de provocar reflexão e estimular o diálogo. Contudo, quando essa politização se transforma em doutrinação, limitando o campo das possibilidades narrativas e sufocando a liberdade criativa, o cinema corre o risco de perder sua essência artística. É necessário encontrar um equilíbrio: permitir que o cinema fale de política sem se tornar refém dela. Afinal, a arte deve ser, acima de tudo, um espaço de liberdade — inclusive a liberdade de discordar.

Escrito por: Dart
Gosto de séries, filmes e quadrinhos

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