
O Preço da Segurança

Dizem que segurança é um direito. E é mesmo. Mas como tudo na vida — inclusive os direitos — ela vem com uma etiqueta de preço. O problema é que, diferente das vitrines de shopping, o valor da segurança nem sempre é visível. Às vezes, ele se esconde no recibo que só chega depois: liberdade parcelada em suaves prestações.
Vivemos em uma época em que a palavra "segurança" ganhou status de mantra. Segurança econômica, emocional, alimentar, digital, jurídica, existencial. O mundo virou uma coleção de riscos e, com isso, nasceu a obsessão pelo controle. Nada de errado em querer se proteger — o instinto de sobrevivência é natural. Mas será que não estamos confundindo segurança com estagnação?
Veja bem: quando tudo é regulado, supervisionado, fiscalizado, protocolado… a sensação é de ordem. Mas em nome dessa ordem, deixamos de decidir, de tentar, de criar. E aí vem o paradoxo: quanto mais queremos nos proteger, mais abrimos mão de viver de forma autêntica.
Sabe aquele velho dilema entre liberdade e segurança? Não é apenas um debate político — é uma encruzilhada existencial. Para alguns, liberdade é poder ir e vir. Para outros, é poder não se preocupar. E aí mora o perigo: quando a tranquilidade se torna mais desejável que a autonomia, a tentação do controle absoluto se disfarça de benefício.
Governos adoram isso. O cidadão inseguro é maleável, fácil de agradar com promessas e difícil de mobilizar com ideias. Afinal, quem tem medo não pensa muito — só quer alguém que pense por ele. E, de preferência, que resolva tudo também.

Mas e o custo?

O custo é sutil. Não dói de imediato. Ele se revela quando percebemos que já não temos mais opinião sem consultar o consenso. Que evitamos dizer o que pensamos, com medo de estar fora da cartilha. Que preferimos ser protegidos a sermos desafiados.
É o tipo de prisão que não tem grades — mas tem Wi-Fi e aplicativo de transporte. E isso basta pra muita gente.
De novo: segurança é importante. Claro que é. Mas talvez devêssemos perguntar com mais frequência: segurança a que preço?
E mais importante: quem está pagando essa conta, e em nome de quê?
Porque, veja, viver é arriscado por natureza. Existir é se lançar no desconhecido. Querer que a vida seja 100% segura é, no fundo, querer que ela seja 100% previsível. E onde tudo é previsível… nada floresce.
Que tipo de mundo estamos construindo quando a única prioridade é não se machucar?
A pergunta não é retórica. É convite.

Escrito por: Dart
Gosto de séries, filmes e quadrinhos

Revisado por: Joyce