Enslaved: Odyssey to the West — Um Conto Pós-Apocalíptico Sobre Liberdade, Humanidade e Esperança

13/02/2025

Introdução

Muito antes do que viria ser o Sucesso de The Last Of Us Enslaved já Vinha abrindo caminho com personagens bem desenvolvidos
Muito antes do que viria ser o Sucesso de The Last Of Us Enslaved já Vinha abrindo caminho com personagens bem desenvolvidos

Lançado em 2010 pela Ninja Theory, Enslaved: Odyssey to the West é uma pérola subestimada da era PlayStation 3 e Xbox 360. Com roteiro coescrito por Alex Garland (autor de Ex Machina e roteirista de Extermínio) e atuação de Andy Serkis, o jogo oferece muito mais do que sua jogabilidade de ação e aventura inicial faz parecer. Inspirado livremente no clássico chinês Jornada ao Oeste, Enslaved reinventa um conto espiritual e mitológico dentro de um mundo devastado pela guerra e pela tecnologia, explorando temas como a liberdade, o controle, o valor da vida humana e o que significa ser verdadeiramente livre em um mundo quebrado.


1. Enredo e Personagens: Um Reconto Futurista da Jornada ao Oeste

No coração do jogo está Monkey, um guerreiro solitário e brutal, com habilidades físicas extraordinárias, mas sem rumo. Ele acorda a bordo de uma nave de transporte de escravos em fuga. Também a bordo está Trip, uma jovem hacker inteligente, porém fisicamente frágil. Quando a nave cai, Trip prende Monkey com uma tiara escrava que obriga ele a protegê-la — se ela morrer, ele também morre.

A partir daí, o que começa como uma relação forçada vai se transformando em uma parceria simbiótica e, aos poucos, emocional. Juntos, os dois atravessam um mundo em ruínas, dominado por máquinas hostis (os "mechs"), buscando o caminho de volta à comunidade de Trip. No caminho, encontram Pigsy, um personagem cômico e trágico, que adiciona camadas inesperadas à trama.

A estrutura da narrativa, apesar de simples em sua essência, é carregada de subtexto. O jogo questiona o que é liberdade, se a escravidão pode ser algo além de correntes físicas e se o controle, mesmo com boas intenções, ainda é moralmente aceitável.

Trip, Monkey e Pgsy
Trip, Monkey e Pgsy

2. Jogabilidade: Ação, Plataforma e Parceria

Embora um pouco repetitivo no combate, os desenvolvedores souberam mesclar bem combate, história e momentos de plataforma
Embora um pouco repetitivo no combate, os desenvolvedores souberam mesclar bem combate, história e momentos de plataforma

Enslaved combina elementos de plataforma, combate corpo-a-corpo e resolução de quebra-cabeças. O combate é visceral, com Monkey utilizando seu bastão retrátil para enfrentar inimigos em combos acrobáticos. A plataforma é inspirada em jogos como Prince of Persia e Uncharted, com trechos coreografados e animações fluídas, permitindo que Monkey escale ruínas, pule entre estruturas e explore o cenário de forma orgânica.

Mas o verdadeiro diferencial está na parceria com Trip. Ela não é apenas uma figura passiva — ela pode hackear portas, distrair inimigos e fornecer suporte tático. Jogar bem Enslaved exige usar as habilidades de ambos de forma estratégica, o que reforça a narrativa de interdependência entre os protagonistas.


3. Ambientação: A Beleza na Ruína

A atmosfera e ambientação desse jogo foi algo fora da curva se pensarmos o ano que foi desenvolvido
A atmosfera e ambientação desse jogo foi algo fora da curva se pensarmos o ano que foi desenvolvido

Visualmente, o jogo é um espetáculo. Ao contrário da paleta cinza típica de muitos mundos pós-apocalípticos, Enslaved opta por um pós-apocalipse vibrante: prédios tomados pela vegetação, florestas que engoliram cidades, luz do sol refletindo nas estruturas abandonadas. Esse contraste entre a destruição humana e a regeneração da natureza não é apenas visual, mas também temático — sinaliza a possibilidade de redenção.

A trilha sonora orquestral, composta por Nitin Sawhney, reforça esse tom melancólico e esperançoso ao mesmo tempo. Cada cenário parece contar uma história silenciosa sobre o passado do mundo e sobre o que ainda pode ser salvo.


4. Temas Centrais: Liberdade, Tecnologia e Moralidade

O nome do jogo já entrega seu tema central: escravidão. Monkey está literalmente acorrentado a Trip, mas com o tempo, o jogo nos faz refletir: quem realmente está aprisionado? Ele, pela força? Ou ela, por culpa, medo e trauma?

Há uma crítica forte à dependência tecnológica. O mundo de Enslaved foi destruído pelas máquinas criadas para proteger a humanidade — agora elas caçam os poucos sobreviventes. No fim, o jogo sugere que a submissão voluntária à falsa segurança tecnológica pode ser tão destrutiva quanto a guerra.

A reviravolta final do jogo, em que descobrimos que toda a rede de escravidão de mechs é mantida por uma IA que usa memórias humanas antigas para controlar as massas, levanta um dilema: se o sofrimento pode ser evitado através de uma ilusão, ela seria justificável? A resposta que Enslaved nos dá não é absoluta — ela depende do olhar de quem joga.


5. Curiosidades de Produção

  • A história é inspirada em Jornada ao Oeste, uma das quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa. Monkey é o equivalente ao Rei Macaco Sun Wukong, Trip é a versão futurista do monge Tripitaka, e Pigsy vem direto do livro original.

  • Andy Serkis (Gollum em O Senhor dos Anéis) não apenas deu voz e captura de movimento para Monkey, mas também foi diretor de performance do jogo.

  • O roteirista Alex Garland declarou que queria explorar como a tecnologia pode nos controlar psicologicamente, e como relações humanas reais ainda podem florescer mesmo sob circunstâncias cruéis.

  • O final aberto do jogo dividiu os fãs, mas gerou muitas teorias sobre se a ilusão de liberdade pode ser mais cruel do que a escravidão consciente.


Conclusão

Enslaved: Odyssey to the West é mais do que um jogo de ação com gráficos bonitos. É uma fábula pós-apocalíptica sobre a natureza da liberdade, o poder da empatia e o potencial da humanidade mesmo após seu colapso. Ele nos obriga a olhar para dentro, assim como para fora, e pensar: O que é necessário para sermos realmente livres? O jogo pode não ter tido o sucesso comercial merecido, mas permanece como um exemplo poderoso de como videogames podem ser arte, filosofia e entretenimento — tudo ao mesmo tempo.

Escrita e edição: Joyce

Apaixonada por livros, música e games