Anakin Skywalker: O Escolhido

25/05/2025

Poucos personagens na história da ficção carregam tamanha complexidade simbólica quanto Anakin Skywalker. Em sua trajetória, contada de maneira quase bíblica ao longo das trilogias de Star Wars, vemos não apenas a ascensão e queda de um herói trágico, mas o reflexo de dilemas humanos universais — sobre poder, medo, amor, identidade e liberdade. Anakin não é apenas o "Escolhido" da profecia Jedi. Ele é também o reflexo das contradições de uma ordem decadente, um filho órfão de uma galáxia em crise, e a expressão máxima da ideia de que até os maiores salvadores podem se tornar tiranos quando confrontados com seus próprios demônios.


1. A Criação do Escolhido: Mito, Profecia e Destino

A origem de Anakin é envolta em mistério. Nascido de uma mãe virgem, sem pai conhecido, ele carrega ecos de narrativas messiânicas presentes em diversas tradições religiosas — de Jesus Cristo a figuras mitológicas como Perseu. A profecia Jedi fala de alguém que trará equilíbrio à Força, e Qui-Gon Jinn acredita piamente que Anakin é esse alguém. Acreditar numa profecia, no entanto, é também carregar uma maldição: transformar a vida de uma criança em um projeto de salvação inevitável.

Anakin é arrancado de sua realidade como escravo e transportado para uma ordem que prega o desapego, a disciplina e o controle das emoções — tudo aquilo que ele não teve tempo de desenvolver de forma natural. A força avassaladora de seu poder não encontra um lar, mas uma prisão espiritual.


2. Entre Amor e Proibição: A Ruína da Emoção Reprimida

A Ordem Jedi, moldada pelos ideais estoicos, falha ao não perceber que emoções não são fraquezas — são parte fundamental da experiência humana. A exigência de que Anakin negue seus sentimentos o leva a escondê-los, e a transformá-los em obsessões silenciosas.

O amor proibido por Padmé Amidala, o medo da perda, a raiva diante da impotência — tudo isso vai se acumulando em seu coração como um veneno lento. Não é por acaso que suas visões da morte de Padmé são o estopim de sua rendição ao lado sombrio. Ele não se torna Darth Vader por ganância ou sede de poder — mas por amor, distorcido pelo medo. Como o próprio Palpatine diz: "O medo de perder é um caminho para o Lado Sombrio."


3. O Fracasso das Instituições: Jedi, República e Mentores

Anakin também é vítima do fracasso institucional de sua época. A Ordem Jedi, burocratizada e dogmática, age mais como uma força policial do que como guardiã espiritual. A República, por sua vez, é um corpo apodrecido, manipulado por interesses corporativos e cegamente confiando em sua própria moralidade.

Obi-Wan, embora seja um mestre hábil, não consegue ser uma figura paterna. Palpatine, por outro lado, se apresenta como amigo, mentor e confidente. A ausência de uma estrutura emocional estável e de uma orientação ética real faz com que Anakin confunda a promessa de ordem com o domínio absoluto.


4. A Queda: Darth Vader como Máscara e Prisão

Ao tornar-se Darth Vader, Anakin finalmente cede ao peso de suas emoções e contradições. Ele mata, trai, destrói — mas tudo isso, paradoxalmente, para proteger aquilo que ama. A ironia trágica é que, ao tentar salvar Padmé, ele a perde. Ao tentar impedir a morte, ele se torna um agente dela.

Vader é mais do que uma identidade nova. É uma prisão simbólica. O capacete, a armadura, a voz artificial — tudo isso representa a castração de sua humanidade. Ele se torna mais máquina do que homem, como o próprio Obi-Wan descreve, uma existência onde não há prazer, nem dor, apenas função.


5. Redenção: Amor como Ato Revolucionário

Ainda assim, Anakin nunca desaparece por completo. Seu último ato, ao salvar Luke e destruir o Imperador, representa a vitória da centelha humana sobre o abismo. O que nem os Jedi, nem os Sith entenderam — mas que Luke percebe — é que o amor, longe de ser uma fraqueza, pode ser uma força de redenção.

Anakin retorna à luz não por causa de uma profecia, mas por um gesto de amor. Ele é salvo não pela espada, mas pelo vínculo entre pai e filho. Sua redenção encerra o ciclo, quebra a máscara e devolve humanidade ao mito. Ele morre como Anakin Skywalker — não como Vader.


Conclusão: O Herói Trágico do Século XXI

Anakin Skywalker é, acima de tudo, um herói trágico. Não no sentido clássico de um guerreiro invencível, mas como aquele que carrega dentro de si o potencial para o bem e para o mal, e que é tragado pela tensão entre os dois. Sua história é atemporal porque fala sobre o que significa ser humano — sobre falhar, amar, se perder e encontrar redenção.

Num mundo que ainda luta para equilibrar emoção e razão, liberdade e segurança, tradição e mudança, Anakin representa cada um de nós — em conflito, em busca de sentido, à beira da luz ou da escuridão. E talvez, no fim, seja justamente isso que o torne tão inesquecível.

Escrito por: Dart

Gosto de séries, filmes e quadrinhos

Revisado por: Joyce

Apaixonada por livros, música e games