
A Sombra Do Protetor
Às vezes me pego pensando se a liberdade, como conceito, ainda nos fascina — ou se virou só um figurante desbotado nas falas de campanhas eleitorais. Num país onde a promessa de um auxílio, um benefício ou uma nova lei paternalista rende mais aplausos do que uma proposta de autonomia, não é estranho que a ideia de ser livre comece a parecer incômoda.
Talvez porque ser livre dá trabalho.
A liberdade verdadeira — não essa que se resume a poder escolher a cor da sua camiseta ou qual série vai maratonar — exige algo que, convenhamos, não está na moda: responsabilidade. E quando falo em responsabilidade, não me refiro apenas àquela que pesa sobre as costas no fim do mês, mas à responsabilidade de pensar por si, de agir por si, de lidar com as consequências das próprias escolhas.
Vivemos cercados por discursos que transformam o Estado em uma figura quase mítica, onisciente, onipresente, pronta para suprir todas as nossas necessidades, solucionar todos os nossos problemas e nos proteger de todo e qualquer desconforto. E tudo isso parece muito confortável, até que um detalhe escapa: quanto mais o Estado faz por nós, mais ele decide por nós.
Se ele define o que é melhor para mim, para você, para todos... o que sobra de nossa autonomia?
É claro que o Estado tem um papel — e não, esse texto não é um panfleto libertário disfarçado. Mas talvez seja um convite. Um convite para olhar ao redor e se perguntar: até que ponto essa proteção toda não virou uma espécie de prisão confortável? Até que ponto abrimos mão de decidir por nós mesmos em nome de uma segurança que, muitas vezes, é apenas a ilusão de controle?
Tem gente que acha que liberdade é um luxo. E não é difícil entender por quê: ela cobra um preço alto. Ter liberdade é aceitar a possibilidade do erro, do fracasso, da dor. Mas é também nesse terreno instável que floresce a autenticidade, a criação e, sobretudo, a dignidade.
Fico pensando se o maior desafio da nossa geração não é apenas resistir aos autoritarismos escancarados, mas aos sorrisos suaves do autoritarismo velado, aquele que se disfarça de cuidado. Porque quando o protetor começa a decidir demais, ele deixa de proteger — e começa a controlar.
Talvez o maior ato de coragem hoje seja esse: assumir as rédeas da própria vida. E, quem sabe, inspirar outros a fazer o mesmo.
Não tenho respostas definitivas — e sinceramente, desconfio de quem tem. Mas se esse texto servir ao menos para provocar uma pergunta incômoda, então já valeu a pena.

Escrito por: Dart
Gosto de séries, filmes e quadrinhos

Revisado por: Joyce