
Fogo no Céu
Se você cresceu nos anos 90, viu esse filme numa sessão da madrugada, provavelmente rodeado de cobertores e paranoias sobre luzes estranhas no quintal. Fogo no Céu ("Fire in the Sky", 1993) é um daqueles filmes que se infiltram na sua mente como uma sonda alienígena: discreto, incômodo e memorável. Mas vamos ser honestos: o que faz esse filme ficar gravado no inconsciente coletivo não é apenas a história de abdução baseada em "fatos reais". É a forma como ele mexe com a nossa eterna pergunta: e se não estivermos sozinhos?

A HISTÓRIA: UMA ABDUÇÃO, MUITOS TRAUMAS

O filme é baseado no caso de Travis Walton, um lenhador do Arizona que, em 1975, desapareceu misteriosamente por cinco dias após um suposto encontro com um OVNI. A versão oficial (ou melhor, a versão do próprio Walton) é que ele foi abduzido por seres alienígenas e retornou atordoado, nu, e com flashbacks dignos de um pesadelo biomédico interestelar.
Claro, céticos dirão que foi uma armação ou um surto psicótico coletivo com pitadas de oportunismo. Mas o que me intriga é o seguinte: a maioria das pessoas que inventa esse tipo de história quer fama. Travis... sumiu. Por cinco dias. Sem deixar rastros. E voltou parecendo o Frodo após encarar o Olho de Sauron sem protetor solar.

A ATMOSFERA: UM TERROR QUE QUEIMA DEVAGAR

O filme é dirigido por Robert Lieberman e, tirando as licenças poéticas da sessão de tortura alien, é até bastante comedido. O terror aqui é mais psicológico que visual. A tensão está no que não se vê, nos silêncios entre os personagens, nas desconfianças da cidade pequena que parece saída de um conto do Stephen King com menos monstros e mais olhares tortos.
Mas vamos ao ponto alto: a tal cena da nave. Se você já viu, você sabe. Se não viu, prepare-se para uma das sequências mais desconfortáveis e memoráveis do cinema de ficção dos anos 90. Nada de luz branca, seres benevolentes ou viagens espaciais filosóficas. Aqui é agulha, gel, paralisia, sofrimento. Kafka encontra Alien.
TEORIAS, LÓGICA E LOUCURA
Como bom entusiasta das conspirações (e com uma assinatura vitalícia na biblioteca de Arquivos X), não posso deixar de questionar: e se a experiência de Walton for um caso real de contato com uma civilização que vê os humanos como bichos de zoológico? Ou como cobaias involuntárias de uma ciência que nós nem conseguimos conceber?
Joyce, minha contraparte cética, diria que tudo isso é resultado de uma combinação entre histeria coletiva, pressão psicológica e a boa e velha vontade humana de se tornar especial. Mas o que sempre me pega é a constância com que esses relatos surgem ao longo da história, em culturas separadas, com detalhes semelhantes.
E tem mais: o teste do polígrafo. Travis e seus colegas passaram. Mais de uma vez. Claro, detector de mentiras não é prova jurídica, mas é uma evidência curiosa, no mínimo.
CURIOSIDADES GALÁCTICAS
O roteirista Tracy Tormé (sim, filho do lendário cantor Mel Tormé) teve que modificar boa parte da narrativa para torná-la mais "palatável" ao público. O relato real de Walton, segundo ele, era ainda mais bizarro que o mostrado no filme.
A cena da abdução foi tão impactante que virou referência em vários episódios de South Park, Arquivo X, e até em Stranger Things.
Travis Walton virou uma figura recorrente em convenções ufológicas, e até hoje sustenta sua história sem vacilar. Não virou milionário. Não virou guru. Continua sendo o cara que disse ter sido levado por algo lá fora.
CONCLUSÃO: FICÇÃO COM CHEIRO DE ENIGMA
Fogo no Céu é mais do que um filme sobre alienígenas. É um estudo sobre medo, dúvida, isolamento e o eterno embate entre crer e negar. Ele representa aquele ponto exato em que a mente humana toca o desconhecido e, em vez de respostas, recebe uma cicatriz.
Então, se algum dia você estiver numa estrada deserta e vir uma luz forte vinda das árvores... lembre-se: talvez você não esteja sendo escolhido. Talvez você seja apenas o próximo a conhecer uma verdade que a maioria de nós não está pronta para encarar.
Mas ei... isso não quer dizer que você não deva olhar pra cima.
Porque o fogo... ainda está lá no céu.
