Afinal de Contas Joel é um Herói ou um Vilão? - The Last of US

08/06/2025

Uma conversa sobre coisas mundanas


JOYCE: Hoje vamos fazer algo um pouco diferente. Em vez de apenas apresentarmos nossas opiniões isoladas sobre The Last of Us, decidimos conversar abertamente sobre como cada um de nós interpretou essa obra — porque sim, isso vai muito além de ser apenas "um jogo". Ambos terminamos a campanha na dificuldade normal: eu joguei a versão remasterizada no PlayStation 4 Pro, enquanto o Dart jogou recentemente no notebook, com a edição reimaginada para PlayStation 5 e PC via Steam.

DART: E antes que alguém pense que estamos prestes a discutir só mais um jogo de zumbis, já deixo claro: não é disso que se trata. Essa conversa envolve temas densos — perda, egoísmo, sobrevivência, moralidade — e tudo aquilo que explode quando a sociedade desaba e o que sobra é o ser humano nu, com seus instintos e traumas à flor da pele.

JOYCE: E é justamente aí que divergimos. Ao conversarmos sobre o final do jogo, ficou claro que nossas interpretações — especialmente sobre as escolhas de Joel — são quase opostas. E é essa diferença que torna o debate tão interessante. Então, sem mais delongas, vamos à nossa conversa.


DART: Vamos começar do início. Joel é o herói, ponto. Não um herói limpo, idealizado, mas um herói real, humano, cheio de falhas, sim, mas movido pelo amor mais visceral que existe: o amor de pai. O cara perdeu a filha no início do apocalipse. Aquele momento o quebrou. E a jornada com a Ellie é, na verdade, uma lenta reconstrução da alma dele. Ele volta a sentir, a confiar, a proteger. E quando finalmente encontra algo a que se agarrar de novo... você quer que ele sacrifique isso?

JOYCE: Entendo seu ponto, Dart, mas isso não apaga o fato de que Joel toma uma decisão unilateral, egoísta e violenta. Ele escolhe matar pessoas que estavam buscando a cura para uma pandemia global. Não conversou com Ellie, não deu a ela a chance de decidir. E sim, ele amava Ellie como uma filha, mas amar não justifica matar uma chance de salvar a humanidade. Isso não é heroísmo, é apropriação. Ele roubou o direito de escolha dela.

DART: Mas você viu o mundo em que eles viviam? Uma civilização em ruínas, tomada pela selvageria, por comunidades totalitárias e grupos de canibais. Que garantia havia de que a cura funcionaria? Ou de que os Vagalumes não usariam a cura como moeda de poder? Altruísmo num mundo pós-apocalíptico é um luxo, Joyce. E Joel sabia disso. Ele fez uma escolha baseada não só no amor, mas na descrença num sistema corrompido.

JOYCE: E ainda assim, ele matou cirurgiões. Massacrou pessoas. Tudo para proteger sua "segunda filha". Eu sei que não existe escolha limpa em um mundo como aquele, mas Joel eliminou qualquer chance de reconstrução coletiva. Não havia garantia de que funcionaria, é verdade. Mas também não havia garantia de que falharia. Ellie teria escolhido morrer, se isso significasse dar sentido à vida dela. E ele tirou isso dela.

DART: Mas é isso que me faz chamá-lo de herói. Ele não foi movido por glória, por vingança, por vaidade. Ele foi movido por amor. Um amor que transcende a moralidade tradicional. Joel passou vinte anos anestesiado emocionalmente. E quando Ellie apareceu, ele teve uma segunda chance. No fundo, não foi uma escolha racional. Foi uma resposta instintiva, quase primal. Ele viu a filha dele naquela mesa de operação. E você pode julgar isso, mas pode dizer com certeza que faria diferente?

JOYCE: Não posso. E é exatamente por isso que digo que ele não é um vilão, mas também não um herói. Ele é um homem. Um ser humano tentando sobreviver, tentando encontrar sentido num mundo devastado. Ele agiu por amor, sim. Mas um amor que se sobrepôs à razão, à moral, à esperança coletiva. Isso é profundamente humano. Complexo. Doloroso. É o tipo de dilema que não cabe em preto e branco.

DART: Finalmente estamos de acordo. Joel não cabe nas categorias clássicas. Ele é a personificação do dilema humano. Não estamos falando de um herói como Link ou um vilão como Ganondorf. Joel é o que acontece quando o mundo quebra você e depois oferece uma chance de redenção com um preço impagável.

JOYCE: Concordo. No fim, The Last of Us nos obriga a aceitar que amor e egoísmo podem andar de mãos dadas. Joel salvou Ellie porque amava, mas também porque não podia suportar perder outra filha. Ele escolheu o amor privado sobre a salvação pública. E talvez qualquer um de nós, com os traumas dele, teria feito o mesmo.

DART: Então, talvez a grande moral seja essa: em um mundo despido de civilização, o fator humano é tudo o que resta. E se o amor é a última coisa que nos torna humanos... então Joel, com todas as suas falhas, foi mais humano do que todos.

JOYCE: Exato. Heróis e vilões são conceitos para mitos. Joel é real. E isso é o que torna sua história tão inesquecível.


DART: Ha! Admita, Joyce. Por um segundo ali você quase concordou comigo. Eu vi! O brilho nos seus olhos, a centelha da razão surgindo… Está se rendendo ao charme irresistível da minha lógica, confessa!

JOYCE: Ha ha ha… Nem em mil apocalipses, Dart. Continuo achando você completamente maluco — e ainda por cima obcecado por homenzinhos verdes do espaço.

DART: Cinzas, por favor. Um mínimo de precisão científica, tá? Não passo horas assistindo Ancient Aliens e anotando em cadernos à toa…

JOYCE: Tudo bem, professor das galáxias. Apesar das nossas discordâncias, eu até gosto da forma como você vê o mundo: absurda, mas passional. A gente brigou um bocado nessa conversa (como sempre), mas foi exatamente isso que a tornou tão rica. Claro, esse aqui é só um recorte — a conversa completa daria um livro — mas queríamos dividir um pouco desse debate com vocês.

DART: Porque, no fim das contas, esse é o espírito da nossa página. Eu e a Joyce discordamos em quase tudo — e ainda assim conseguimos conversar, rir e aprender um com o outro. Isso aqui é um reflexo das nossas discussões de madrugada, regadas a cafeína, sarcasmo e paixão por boas histórias. E The Last of Us é uma delas.

JOYCE: Então se você gostou desse formato diferente, nos diga. Quem sabe voltamos com mais debates como esse?

DART: Se o mundo não acabar até lá, claro. Ou se os cinzas não vierem nos buscar.

JOYCE: ...Às vezes você me assusta.

DART: E é por isso que você me adora.

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