
AD ASTRA
AD ASTRA – UM ECO DE SILÊNCIO ENTRE ESTRELAS E TRAUMAS NÃO RESOLVIDOS
Análise Cinematográfica – por Dart
"No fim, o espaço não é o grande vazio. É só o espelho mais cruel da nossa própria solidão. Ad Astra é um filme de ficção científica com sabor de confissão." – Dart, filosofando entre uma tempestade solar e outra.
Ad Astra (2019), dirigido por James Gray e estrelado por Brad Pitt, é um daqueles filmes que a galera espera que vá ter tiros a laser, alienígenas com antenas e explosões em slow motion… e sai do cinema com uma crise existencial.
E isso é ótimo.
Porque esse não é um filme sobre o espaço. É sobre o silêncio que existe entre pais e filhos. É sobre abandono. Sobre expectativas paternas. Sobre o que acontece quando você passa a vida tentando ser uma sombra melhorada de alguém que te deixou.

1 ▪ A VIAGEM INTERNA TRAVESTIDA DE MISSÃO INTERESTELAR
No papel, Ad Astra é simples: o Major Roy McBride (Pitt) precisa viajar aos confins do sistema solar para encontrar seu pai desaparecido, H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones), um lendário astronauta que pode estar envolvido com uma ameaça misteriosa que coloca a Terra em risco.
Mas a tal missão não é o ponto. O que importa é o que Roy carrega por dentro: uma apatia quase clínica, um autocontrole que beira o inumano, e um trauma enterrado sob anos de isolamento emocional mascarado de profissionalismo militar.
É um filme sobre enfrentar o "deus" que te criou e perceber que ele é apenas um homem — quebrado e fraco como você."
2 ▪ BRAD PITT, EM SUA MELHOR ATUAÇÃO CONTIDA
Brad Pitt entrega aqui talvez uma de suas performances mais subestimadas. Sem gritos, sem lágrimas melodramáticas, ele atua com os olhos e a respiração. Roy é um homem que cresceu se blindando contra emoções, e agora precisa se abrir exatamente no pior momento possível: no meio de uma jornada cósmica de quase solidão absoluta.
A tensão do filme não está nas naves, mas na narração interna — como se fosse um diário de bordo do colapso emocional de um homem que sempre tentou ser mais máquina do que humano.

3 ▪ A ESTÉTICA DO VAZIO
Ad Astra é visualmente estonteante. O design de produção constrói uma visão futurista crível, mas não glamourosa. A Lua virou um shopping interestelar. Marte, um posto avançado melancólico. O espaço? Uma longa estrada escura onde o som do próprio pensamento ecoa alto demais.
A fotografia de Hoyte van Hoytema (de Interestelar) entrega paisagens cósmicas que mais parecem metáforas visuais da psique de Roy: belas, frias, vazias.
4 ▪ "OLHANDO PARA O CÉU E VENDO SEU PRÓPRIO REFLEXO"
O que me pega nesse filme é a maneira brutal como ele mostra que, muitas vezes, nossos maiores dilemas não vêm de fora — mas de dentro.
Roy percebe que não está buscando o pai. Está buscando uma resposta para si mesmo. Ele não quer salvá-lo. Quer entender se ainda vale a pena se importar. Quer saber se existe sentido em continuar reprimindo tudo por causa de um ideal quebrado.
E a resposta que ele encontra… bom, é desconcertante.

5 ▪ UM FINAL SEM EPIFANIA, MAS COM VERDADE
Não espere catarse. Não espere reviravoltas. A grande virada de Ad Astra é um sussurro: o reconhecimento de que amar alguém não significa idolatrá-lo.
Roy volta à Terra não com um triunfo, mas com um suspiro. E isso é mais humano do que qualquer final épico poderia ser.
6 ▪ ÚLTIMO SUSPIRO ESTELAR
Ad Astra é sobre olhar para o espaço e perceber que não há nada lá que possa preencher o que falta aqui dentro.
E talvez, só talvez, o maior ato de coragem não seja viajar até Netuno — mas aceitar a bagunça emocional que te mantém preso à Terra.
Porque, no final das contas, chegar às estrelas não significa nada se você não souber voltar pra casa.
Quem escreveu essa bagaça?

Escrito por:
Dart
Dart é sarcástico, culto, ousado, polímata, visionário, cético seletivo, apaixonado, provocador, criativo, irônico, intenso, questionador, filosófico, nerd, crítico, empático e conspiratório.